Alunos da EEEB Érico Veríssimo estudam cartas de alforria para conhecer história regional
Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei
Áurea e deu fim à legalidade da escravatura no Brasil. Passados 135 anos da
data, diferentes casos de escravagismo moderno são descobertos dia após dia no
país, além de inúmeros crimes de racismo e injúria racial.
Uma realidade por vezes silenciada, mas que teve voz nas
aulas da professora da Escola Estadual de Educação Básica (EEEB) Érico
Veríssimo, Karen Pires. A fim de promover o diálogo entre os alunos sobre o
tema, a docente propôs aos estudantes da turma 104, do 1º Ano do Ensino Médio,
o desenvolvimento de textos baseados em cartas de alforria escritas por negros
que residiam no Vale do Taquari.
Os documentos foram resgatados pela própria professora, que
também é pesquisadora da escravidão na região. Ela realiza o projeto dentro do
componente curricular Cultura e Tecnologias Digitais. “Na aula de História, a
professora trabalhou o papel das fontes documentais e do historiador. Então,
nessa disciplina, explorei o meu papel de pesquisadora, bem como os documentos
históricos da escravidão aqui”, explica.
Ao longo das últimas aulas, a professora mostrou aos alunos
alforrias em slides e falou a respeito da formação do Vale do Taquari. Depois,
em grupo ou duplas, os estudantes buscaram no site do Arquivo Público do Estado
do RS as cartas de Taquari e conheceram o acervo documental da escravidão.
Dentre todas as cartas, cada conjunto de alunos escolheu
uma e usou como base para criar textos. Na poesia, poema, conto ou outro estilo
textual, eles deveriam escrever sobre a pessoa alforriada pela referida carta.
Segundo a professora, o assunto era desconhecido pelos
estudantes, tendo em vista que a história regional é silenciada neste sentido.
Por meio do trabalho, a intenção é que eles reconheçam a importância do cuidado
e respeito consigo e com o outro e também a relevância da cultura africana,
afro-brasileira e indígena no processo de autoconhecimento.
“É um tema transversal e para, além disso, é necessário na
construção de uma realidade mais igualitária e sem racismo”, explica. A
professora pretende seguir abordando o tema em sala de aula com esta e outras
turmas. O próximo passo é formar grupos de pesquisa sobre abolicionistas e fazer
apresentações acerca dos mesmos.
Turma do 1º Ano desenvolveu os textos a partir das cartas de alforria |
Arte negra e indígena
Em 2022, a docente Karen junto da professora Belonice
Medeiros da Silva coordenou um trabalho com as turmas do 2º Ano do Ensino Médio
sobre a arte negra e indígena.
Belonice apresentou aos estudantes os artistas Jaider
Esbell, da etnia Makuxi - destaques da 34 Bienal de São Paulo, 2021 - e Rosana
Paulino – em evidência no cenário artístico brasileiro por discutir questões
como gênero, identidade e representação negra.
Depois de estudarem e analisarem cada um dos profissionais,
os estudantes utilizaram suas obras como inspiração para desenvolverem
composições visuais, como desenhos, colagens e pinturas, nas quais foram usados
suportes como folhas de desenho, papel pardo e tecidos.
Enquanto isso, no componente curricular Projeto de Vida,
Karen os desafiou a fazerem uma pesquisa sobre mulheres indígenas, que são lideranças
importantes no cenário nacional e internacional na luta deste povo.
Os estudantes, então, apresentaram aos colegas a biografia
e imagens destas mulheres. Agora, ambos os trabalhos – artísticos e de pesquisa
– estão expostos no saguão da escola, embelezando o espaço e propondo reflexões
de suma importância acerca destes povos.
Professoras Karen e Belonice |
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